sábado, 3 de abril de 2010

Memória de leitor...



Minha experiência no mundo da leitura

Ler é algo que aprendi no mesmo ritmo que qualquer criança da minha idade, o que me diferenciava delas era a paixão pelos livros, o que desde o início fez parte da minha vida e deixou a certeza de que seria para sempre.

Ainda nos meus primeiros anos tive a influência de alguém que desempenhou um importante papel na minha relação de amor com os livros. Meu avô me ensinou a importância do lúdico, do brincar, seja com os incontáveis jogos e brincadeiras, seja com os inesquecíveis versos, quadrinhas, trava-línguas, rimas, adivinhas, canções e causos. Com ele, aprendi que a língua que falamos oferece diversas possibilidades e que brincar com as palavras é uma forma de brincar com a vida. Na infância, associar leitura ao prazer era garantia de sucesso.

Quando ingressei na escola, via os livros com fascinação, principalmente as ilustrações, que permitiam viajar por um mundo novo - o mundo dos livros. Naquele momento, as histórias que antes eram contadas oralmente, passaram, também, a ser percebidas através da visão, o que trazia uma série de novas possibilidades e atrativos.

No ano seguinte, durante uma visita de um vendedor de livros à escola, eu descobri o que era desejar alguma coisa. Eu queria muito comprar um livro e foi com esperança que levei um bilhetinho para casa para pedir a meus pais que me deixassem comprar. Meus pais deram o dinheiro que havia sido requisitado e, no dia seguinte, tive uma experiência que até hoje lembro com carinho, comprei meu primeiro livro, o primeiro de muitos. O nome da história era “Outra combinação”, de Lúcia Pimentel Góes, e contava a história de uma menininha muito curiosa que acreditava ser capaz de resolver muitos problemas fazendo pequenos ajustes na vida das pessoas, como dar um carro grande para uma grande família e um pequeno para quem tinha uma família pequena. O livro ainda está guardado no escritório da minha casa junto com tantos outros e, hoje, por vezes, leio-o para o meu filho, na vontade de sentir a emoção que senti ao ler o meu livro pela primeira vez. Nesse mesmo ano, lembro das visitas à biblioteca da escola, dos primeiros livros retirados e das incríveis horas do conto com a professora de artes.

Nos anos seguintes, descobri que ir à biblioteca somente uma vez por semana não era suficiente. Foi então que comecei a frequentar a biblioteca com assiduidade - pegava um livro tão logo terminava de ler o anterior.

Durante todo Ensino Fundamental, consegui ler tudo o que tinha na biblioteca, que fosse próprio para a minha idade.

O Ensino Médio foi cursado em outra escola, que tinha como atrativo uma nova biblioteca, cheia de novos livros para serem folheados.

Nesse período já passava a ser mais disciplinada com a rotina de leitura que me impunha. Procurava, religiosamente, ler três livros por semana. Foi nesse tempo, que tive certeza de que pretendia estudar Letras na faculdade, com o intuito de conhecer ainda mais sobre os livros.

A faculdade foi uma experiência incrível. Apesar de ter que dividir o tempo de estudo entre o estudo da língua e o estudo da literatura, pude conhecer incontáveis autores, livros extraordinários, aprendi a refletir, a interpretar, a ler os sinais, os símbolos, o implícito, o pressuposto.

Já faz quatro anos que concluí a graduação e até hoje mantenho a mesma disciplina em relação à leitura. Hoje, me obrigo a ler cem livros todo ano, dos mais variados estilos. As vezes, releio algum livro que sempre me emociona como “A casa dos espíritos”, de Isabel Allende. Em outras, me forço a conhecer novos autores, o que por vezes vale a pena, por vezes, não.

Meus interesses de leitura não são diferentes hoje, do que eram quando entrei em uma biblioteca pela primeira vez. Ainda acho que tudo é fascinante se contado por alguém que saiba fazê-lo. Leio clássicos, biografias, livros juvenis, literatura histórica, obras infantis, de tudo um pouco. Considero que toda leitura é válida quando desperta prazer.

Hoje, já frequento pouco as bibliotecas, frequento mais as livrarias. Hoje posso comprar os livros que tanto gosto, mas jamais esquecerei do primeiro livro que li, da primeira vez que entrei em uma biblioteca e dos versos que meu avô recitava durante a minha infância e, o mais importante, da sensação que todas essas coisas causaram.

Os livros são parte de mim. Com eles, viajo por lugares reais e imaginários, conheço culturas, experimento sensações, amo, odeio, reflito, sofro, vivo várias vidas que não são minhas, mas que deixam marcas profundas na minha alma - alma de leitor.

by Ieia